Bem-estar Físico

Cobertura do V Congresso Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida

Você conhece a Medicina do Estilo de Vida (MEV)?

É a prática baseada em evidências para ajudar indivíduos e famílias a adotarem e manterem comportamentos saudáveis que afetam a saúde e a qualidade de vida. Ela atua em 6 pilares: nutrição; atividade física; sono; controle de tóxico; estresse; relacionamento. 

Entre 12 e 15 de outubro, a equipe do Talk da Saúde esteve no V Congresso Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida em São Paulo. Mas se você não ficou sabendo e está curioso, vamos compartilhar os principais insights e reflexões dessa jornada. Aproveitem!

Os dias foram organizados por temas, com 3 palestras cada, apresentadas no modelo TED TALKS, onde os especialistas tinham 20 minutos para apresentar suas ideias. No final da 3ª apresentação, aconteceu a mesa redonda, com interação da plateia. No total, foram 8 mesas redondas. Veja os insights:

A mesa redonda 1 | Tema: “Aonde quer que eu vá, levo você no olhar”: o movimento MEV no Brasil. Palestrantes: Dr. Alberto Ogata; Dra Fabrícia Maciel e Dr. Roberto Almeida.

  • Viver melhor não é uma questão individual: Determinantes sociais, ou seja, as condições em que as pessoas vivem e trabalham, influenciam os comportamentos e fatores individuais, assim como o status de saúde e bem-estar. 
  • Os principais determinantes sociais que atuam sobre as desigualdades na saúde são: renda; habitação; acesso a espaços verdes; transporte; educação e trabalho. E os principais comportamentos e fatores individuais são: dieta pobre; fumar; inatividade física; consumo nocivo de álcool; estresse. Atenção: não está em ordem de importância.
  • Como visão de futuro para a promoção de saúde temos: Acesso à educação de saúde; Uma melhor coordenação do cuidado dos profissionais da saúde; Visão integral do indivíduo e seu contexto, gerando conexão entre o profissional e quem ele atende; Cuidado longitudinal; Uso da tecnologia para implementação e gestão do cuidado; Profissionais efetivamente treinados em estilo de vida.

A mesa redonda 2 | Tema: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”: MEV na prática. Palestrantes: Dra Luise Montesanti; Dra Marina Salomão; Dr. André Laranjeira.

  • Precisamos DESPRESCREVER remédios. A polifarmácia é uma realidade hoje no nosso país. Temos 3 ótimo motivos para buscar isso como profissionais de saúde: 1. Alguns remédios podem atrapalhar pilares importantes como a alimentação, sono e atividade física. 2. Maior impacto financeiro à medida que a pessoa tem menor renda. 3. Melhores desfechos em saúde em quem tem menor carga geral medicamentosa. 
  • Uma maneira de conseguir vencer a resistência da mudança de quem você atende é a CONFIANÇA. É um construto multifatorial que abrange vários aspectos tanto do profissional (credibilidade: competência, cuidado com a privacidade e confidencialidade, histórico e ética), de quem está sendo atendido (medo, impacto da escolha, incerteza, controle) e da relação entre os dois (valores e temas em comum, empatia, benevolência, rede social em comum). Trabalhe esses pontos.
  • Nossas crianças e adolescentes estão prematuramente apresentando fatores de riscos e doenças crônicas. A conversa sobre as condições de vida e estilo de vida para esse público e família se torna relevante e necessária, enfatizando os 6 pilares e a decisão compartilhada com todos envolvidos. 

A mesa redonda 3 | Tema: “Além do horizonte existe um lugar bonito e tranquilo”: o indivíduo e seu entorno. Palestrantes: Dra Berenice Maria Werle; Arquiteta Priscilla Bencke; Jornalista Raul Juste Lores.

  • A maior referência que temos quando o assunto é longevidade são as Blue Zones. Um estudo realizado na cidade de Veranópolis, Rio Grande do Sul, Brasil, observou que os comportamentos das pessoas longevas são: níveis de stress menores; atividade física é mais intensa, similar a das pessoas adultas, o número de fumantes é menor do que nas cidades maiores como Porto Alegre; costumam fazer refeições regulares garantindo uma nutrição saudável; os idosos participam ativamente das atividades da comunidade.
  • O ambiente influencia na saúde e na qualidade de vida das pessoas. Variáveis como: sons, formas, aromas, biofilia, personalização, cores e iluminação, podem ser utilizadas para promover saúde e bem-estar no ambiente.
  • A interação com a natureza demonstrou melhora cognitiva e afetiva em indivíduos com depressão. Acesse o estudo aqui.

A mesa redonda 4 | Tema: “Uma maçã por dia mantém o médico longe”: o poder MEV. Palestrantes: Dra Sley Tanigawa Guimarães; Dr Gabriel Rozin; Mladen Golubic.

  • Criatividade é uma capacidade que usamos em todas as áreas de nossas vida. O profissional deve considerar algumas atitudes para esse fim. Algumas atitudes podem nos bloquear, como a baixa eficácia, medo, perfeccionismo. Mas algumas outras atitudes podem nos ajudar: “Esvaziar o poço” é escrever de manhã tudo e qualquer coisa que passa na sua cabeça. “Encher e remexer o poço” é aumentar seu repertório com novidades, e uma dica extra é usar qualquer expressão artística para isso. “Encontro com o artista”: momento que você passa sozinho contemplando. 
  • A qualidade de saúde do profissional de saúde influencia o que ele faz na sua intervenção. Como exemplo, médicos que realizam atividade física prescrevem mais atividade física como tratamento. Médicos que fumam, evitam perguntar sobre o tabaco em seus atendimentos.  

A mesa redonda 5 | Tema: “Tomo guaraná, suco de caju, como goiabada para sobremesa”: doenças metabólicas e MEV. Palestrantes: Dra Delane Wajman; Dra Carolina Pimentel.

  • Um estudo demonstrou que a redução de peso gerou redução deleptina, PYY, colecistoquinina, insulina e amilina. Enquanto a redução de peso gerou aumento de: grelina, GIP, peptídeo pancreático e FOME.
  • Não olhar apenas o IMC normal como meta de tratamento da obesidade (o termo obesidade controlada e classificado no meio científico) e o cuidado a longo prazo é fundamental;
  • Metas SMART podem ajudar no tratamento.
  • Visando o controle de obesidade de pais e filhos, a intervenção ideal de controle de peso começa 24 meses antes da gravidez. Acesse o estudo aqui.
  • Intervenções de habilidades culinárias ajudam nas escolhas saudáveis das crianças. Acesse o estudo aqui.

A mesa redonda 6 | Tema: “Eu vejo a vida melhor no futuro, eu vejo isso por cima de um muro”: tecnologias e comunicação na MEV. Palestrantes: Prof. Dr. Chao Lung Wen; Dr. Diogo Lara; Dr Jairo Bouer.

  • Alguns dos aspectos que envolvem religiosidade e espiritualidade podem trazer benefícios para a saúde, emoções e comportamentos. São eles: preceitos de cuidados com a saúde; rede de apoio; aumento da auto-estima, auto-eficácia e auto-gerenciamento; senso de coerência e sentido. 
  • Estratégias que proporcionam efeito benéfico ou positivo ao praticante são: procurar o amor e a proteção de Deus ou maior conexão com forças transcendentais; buscar ajuda e conforto na literatura religiosa; buscar perdoar e ser perdoado; orar pelo bem-estar de outros.
  • Gratidão, perdão, mindfulness e auto-compaixão promovem melhores emoções e podem promover melhor qualidade de sono.

A mesa redonda 7 | Tema: “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faiá”: MEV e transcendentalidade. Palestrantes: Psicológica Ana Carolina Del Nero; Dr. André Silva.

  • Embora tratar a doença com a tecnologia seja o futuro, tratar a doença não é o futuro da saúde;
  • Pelas previsões, em 2030 todos terão acesso ao 5G, mas o Brasil será o 5º país mais idoso do mundo;
  • Sociedade 5.0 e perfil populacional: alta tecnologia + a inclusão de uma sociedade idosa;
  • O uso de tecnologias (eHealth e mHealth) podem ajudar a barreiras físicas, econômicas e sociais.
  • Alguns fatores que favorecem o engajamento nos apps: interativo, integrado, fácil manuseio, divertido, personalizado e confiável no uso de dados.

A mesa redonda 8 | Tema: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”: MEV e emoções. Palestrantes: Dr. Alexander Daudt; Dra Lena Nabuco; Dr Fabiano Moulin.

  • Temos habilidades e cognição social inerentes. São habilidades que permitem a construção de representações mentais das relações e consequentemente adaptação do comportamento. A socialização é uma intervenção não-farmacológica que deve ser considerada. 
  • Solidão é uma “experiência subjetiva indesejada relacionada a um esvaziamento de intimidades e necessidades socias”. Também é uma discrepância entre a interação social desejada em comparação com a existente. Ela afeta nossos sistemas e aumenta nosso risco de doenças cardiovasculares e mortalidade. Sintomas e comportamentos de doença são: fadiga, sonolência e isolamento. 
  • Apesar da estigmatização injustificada comum de que a obesidade é resultado da preguiça e da falta de disciplina, está ficando cada vez mais claro que a alimentação e a obesidade causam alterações nos circuitos cerebrais que são críticos para o controle do comportamento motivacional.
  • Dar pequenos estímulos de dopamina a longo prazo parece estar associado à diminuição da função da dopamina. Acesse o estudo aqui.